segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Salmo 73

Salmo 73 – Quanto a mim...

Nota: O grande pregador Campbel Morgan me auxiliou muitíssimo na preparação deste sermão. Mas, não me detive apenas nele, mas em outros comentários de Salmos como em The Preacher´s Homiletic Commmentary, no comentário de Willian Jones.
Se você tem interesse em estudar este Salmo, sugiro que primeira leia todo ele, e depois comece a estudar na ordem aqui apresentada.

Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo. Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos (73.1-2).

Int. Uma das características dos salmos é que seus autores abrem o jogo sobre si mesmos, seus problemas, suas reflexões e suas dúvidas.
Eles não querem se exibir. Há pessoas que costumam confessar seus pecados para poder se exibir.
Este Salmo começa com uma declaração e termina com outra declaração. Entre estas temos a confissão de um autor, Asafe. Ele começa com uma expressão de vitória, de alegria! Este homem conta sua experiência particular, de olhar para a vida dos outros e comparar com a sua. Ele fornece uma descrição da vida dos outros.
I – A perplexidade toma conta dos autores dos salmos.
1. A perplexidade do autor não é surpreendente. Nós estamos tratando da mente de Deus que é diferente da mente humana. Temos a idéia de que Deus é obrigado a abençoar os seus filhos e a dar-lhes tudo o que eles desejam. Mas Deus pensa diferentemente de nós, como diz Isaías: “Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês. Assim como o céu está muito acima da terra, assim os meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus” (Is 55.8-9).
2. A segunda coisa que vemos aqui é que não é pecado ficar perplexo. Tem crentes que acham que o céu será sempre azul, límpido e brilhante. É errado ficar num estado de desespero, mas não é errado sentir-se perplexo. Paulo já dizia: “Perplexos, mas não desanimados” (2 Co 4.8). – Perplexidade: Indecisão.
a) Apesar de não ser pecado sentir-se perplexo, a perplexidade sempre abre a porta para a tentação. A tentação não apenas abala, ela pode derrubar o maior dos santos. Por isso o salmista diz: “Quanto a mim, os meus pés quase se desviaram...”. Jamais esqueça que o poder do inimigo contra nós somente é inferior ao poder de Deus. Paulo diz: “Revistam-se de toda armadura de Deus”. Necessitamos de toda armadura divina para poder vencer as tentações. Foi este tipo de tentação que tomou conta da vida de Paulo em 2 Coríntios 12.
3. A terceira coisa que vemos aqui é que a tentação produz cegueira espiritual. Veja como ele diz: “Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos”. A tentação não deixa a gente pensar com clareza. “Você não acha que não vale a pena se santificar, se abster de certas coisas, e ver que no fim, os outros ainda estão melhor que nós?” (v 13). Parece que não adiantou nada eu me conservar puro e ter as mãos limpas de pecado. Ouça o diabo sussurrando em seu ouvido: “Não adianta você querer se bonzinho; você é mau por natureza...”. “Não adianta ser crente. Os ímpios não crêem em Deus e vivem melhor que você!
4. Temos de aprender a lidar com a tentação quando ela vem. É isto que o salmista tenta nos dizer. “Chegamos a conclusão de que Deus é bom para Israel”. Mas, será que ele é sempre bom? Podemos dizer isto sem culpa? O salmista acrescenta: “...para com os de coração limpo”. Como em Romanos 8.28: “Todas as coisas cooperam para o bem dos amam a Deus...”.
A perplexidade não o levou à queda, mas à reflexão!
Hino: tentado não cedas, ceder é pecar!

II. Tomando pé da situação.
“Se eu tivesse falado como os maus, teria traído o teu povo. Então eu me esforcei para entender essas coisas, mas isso era difícil demais para mim” (15-16).

Os salmos não devem ser utilizados como tranqüilizantes; nem como um tratamento psicológico. Ou como poesia. Os salmos são tudo isto, mas eles têm como finalidade retratar a vida espiritual e as experiências de seus autores. Olha para Jesus! Mas, isto não é tudo. Deve haver disciplina. Se você estudar a vida dos puritanos, como Richard Baxter, dos metodistas, como os Wesleys e Whitfied, verá que eram disciplinados na vida cristã.
1. A grande arte da vida cristã é aprender a refletir e dirigir-se a si mesmo. Ele se refreou. O texto acima pressupõe que o autor ia dizer algo, mas parou. Ia falar. Ficou quieto. Ele refletiu antes de falar novamente.

III. A necessidade de revelação.

“...até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles” (v 17).

A capacidade de raciocinar e a reflexão nem sempre têm todas as respostas. É preciso que o homem receba um toque de revelação, uma luz para entender o que se passa.
1. O que é preciso para receber uma revelação?
a) Não se consegue uma revelação sem que se tenha fome e sede de Deus.
Davi também se sentia ofendido por seus amigos que lhe perguntavam: “Onde está o teu Deus?”. Ele diz: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42.1-2).
“Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa—o teu santo templo” (Sl 65.4).
A pessoa que tem sede de Deus, ora, clama, busca sua presença. Os Salmos estão repletos deste tipo de clamor.
b) Entrar no santuário, isto é, ficar frente com Deus. Foi o caso de Jó. Depois que Deus fala com ele, exclama: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42.2-5).
O que é entrar no santuário? É buscar a Deus. Ir onde ele está!
Quando não temos revelação, falamos de coisas que não entendemos.

“Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença” (Sl 73.21-22).

Ex. Foi o caso de Moisés. Ele precisou ter uma revelação do caráter de Deus (Ex 34.6-7). E também de todos os líderes da Bíblia. Eles tiveram um encontro com Deus. Como Abraão que via o futuro, e viu os dias além da igreja!
2. A revelação dissipa nossas dúvidas. Por isso Paulo pede que oremos pelos novos crentes para que tenha iluminação divina. “... para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder...” (Ef 1.17).
O que é uma revelação divina? É quando nossa mente, nossa razão, depois de grande luta se rende à iluminação do Espírito de Deus.
3. A revelação traz luz sobre nós mesmos. A revelação de Deus NÃO NOS MOSTRA APENAS SUA GLÓRIA, mas nosso pecado. O salmista Asafe, aqui, ao entrar no santuário, não apenas descobre o destino dos ímpios: ele vê o seu interior: “Eu era um bruto, um insensato, irracional, falei sem pensar, sem conhecer...”. Toda pessoa que tem revelação de Deus vê o seu interior. A mesma experiência teve Isaías no capítulo 6. Ele viu o Senhor e a glória do Senhor lançou luz sobre seu interior e ele viu seu pecado! “Ai de mim”, gritou.
Isaías disse: “Eu vi o Senhor...”. Depois ele exclamou: “Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Is 6.5).
A introspecção sem a luz de Deus traz culpa e desatinos, mas com a luz de Deus traz respostas. A reflexão apenas pode trazer confusão, mas quando Deus jorra de sua luz sobre nossas mentes, entendemos com clareza.
O que levou homens e mulheres de Deus a suportarem as dificuldades foi a revelação que tiveram de Deus e de seu propósito.
Podemos ver isto em Abraão que vivia em tendas porque aguardava a cidade que tem fundamentos; em Moisés, que contemplava o galardão; em José que deu ordens aos judeus sobre seus ossos... etc.
Voltemos ao Salmo 73.
No início ele diz: “Quanto a mim...”. Antes de ter revelação de Deus, quase se desviou. Agora no fim declara de novo: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus...” (v 28). Apenas um olhar separa o homem das respostas que Deus tem para ele.
Os dois “quanto a mim” no versículo dois e depois no vinte e oito mostram que a experiência que ele teve mudou sua maneira de pensar. Agora ele podia dizer que Deus é bom pra com ele também!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A Vida Depois de Lakeland: A Confusão
J. Lee Grady

Tradução de João A. de Souza filho

Ao anunciar que seu casamento chegou ao fim, Todd Bentley jogou o movimento num redemoinho e nos deixou perguntas que precisam ser respondidas.
Não deveria terminar assim.
O evangelista Todd Bentley anunciava aos quatro ventos que o avivamento de Lakeland era o maior derramamento pentecostal desde os tempos da rua Azuza (1906). Do alto da gigantesca plataforma da grande tenda na Flórida, Bentley pregou para milhares de pessoas, convidando-as a se prostrarem em oração. Muitas foram as pessoas que testemunharam curas de surdes, cegueira, problemas cardíacos, depressão e dezenas de outras enfermidades durante os cultos em Lakeland, durante mais de cem noites consecutivas. Bentley anunciou que dezenas de pessoas haviam sido ressuscitadas dentre os mortos durante o avivamento.
Mas, esta semana, poucos dias depois de anunciar o fim de sua participação em Lakeland, este pregador canadense anunciou que seu casamento chegara ao fim. A equipe de Bentley acha que a cessação do movimento não deve ser atribuída aos problemas pessoais de Bentley, mas lançou um release tornando pública a separação de Shonnah e Todd Bentley.
A notícia chocou os fãs do pregador e entristeceu aqueles que questionavam a credibilidade dos cultos desde que o movimento surgiu nos começos de abril. Estou triste. Desapontado. Estou uma fera. Aqui estão minhas muitas perguntas sobre este fiasco:
Porque tanta gente veio de várias partes do mundo para participar de encontros com um evangelista que, desde o início tinha sérios problemas de credibilidade? Em outras palavras, não dá pra crer!
Desde a primeira semana do avivamento de Lakeland muitos cristãos com discernimento levantaram questões sobre as crenças e práticas de Bentley. Sentiram-se incomodados quando ouviram-no afirmar que conversava com um anjo em seu quarto de hotel. Sentiram-se inquietos quando viram o pregador usando uma camiseta com a estampa de um esqueleto e se perguntavam como um homem de Deus podia ter tantas tatuagens pelo corpo. Ficaram horrorizados quando ele testemunhou que deu um soco num homem e arrancou-lhe um dos dentes durante a oração (com imposição de mãos).
Os que participavam das reuniões não sabiam discernir coisa alguma. Apenas aceitavam e engoliam tudo. A mensagem era clara: “Isto é de Deus. Não questione”. Assim, antes de poder dizer “sheeka boomba” (que Bentley sempre orava do púlpito), muitas pessoas voltaram pra suas casas, ou foram deixadas no chão, abandonadas ao estilo Bentley.
Particularmente creio que, em parte, esta falta de discernimento foi por puro zelo a Deus. Temos tanta fome espiritual que corremos atrás de tudo. E, algumas vezes, os famintos tendem a comer qualquer coisa. Muitos de nós apreciamos muito mais uma demonstração barulhenta de milagres, de sinais e maravilhas do que um estudo bíblico em grupo. Contudo, somos confrontados com a triste realidade de que nosso zelo incontrolado é sinal de imaturidade. Nossa paixão adolescente nos leva a querer participar de coisas loucas e estúpidas. Está na hora de começarmos a crescer. Por que ninguém em Lakeland denunciou os comentários favoráveis que Bentley fez sobre Willian Branham?
Este é outro ponto de preocupação. Branham se entregou a terríveis enganos no fim de seu ministério, e suas doutrinas estranhas ainda são aceitas por seus seguidores nos dias de hoje. Por que ninguém corrigiu este engano diretamente do púlpito? Os líderes deveriam proteger o rebanho de heresias, e não alimentar o rebanho com mais heresias. Somente Deus sabe até onde chegou a heresia de Lakeland.
Que Deus nos perdoe por permitirmos que sua palavra fosse tão vilipendiada.
Um evangelista pentecostal famoso me chamou por telefone esta semana depois que a sujeira de Bentley se espalhou pelo ventilador. Ele me disse: “Estou certo de que uma grande parte dos carismáticos seguirá o anticristo quando ele aparecer, porque os carismáticos não têm discernimento”. Que coisa! Felizmente aprendemos a lição e tomaremos as devidas precauções quando o impostor surgir.
Por que a emissora de televisão God TV afirmava que qualquer crítica contra Todd Bentley era de origem demoníaca? Esta declaração foi feita num dos programas de televisão deles. Os apresentadores da emissora chegaram a afirmar que qualquer pessoa que desse ouvidos aos comentários contrários a Bentley perderia sua cura e sua bênção. É o tipo de manifestação cultual da pior espécie.
A Bíblia afirma que os bereanos eram mais nobres porque examinavam as escrituras para se certificarem da verdade (At 17.11). No caso de Lakeland qualquer questionamento intelectual era visto como sinal de fraqueza. As pessoas eram solicitadas a entrar no mover para só então abrir os olhos.
Não é pelo fato de crermos no poder do Espírito Santo que vamos deixar nosso cérebro pendurado na porta da igreja. Somos orientados a testar os espíritos. Jesus quer que o amemos de todo coração. Este escândalo de Lakeland levará muita gente a se sentir traída e muitos, de tão frustrados desistirão de freqüentar uma igreja. Outros poderão sucumbir. Tudo seria evitado se os líderes tivessem a coragem de orientar as pessoas a avaliar suas experiências espirituais à luz da palavra de Deus.
Por que um grupo de respeitados ministros impuseram as mãos sobre Bentley no dia 23 de junho e publicamente o ordenaram ao ministério? (NT: Líderes como Rick Joyner, Peter Wagner e outros declararam seu apoio a Bentley). Esta cerimônia controversa foi organizada por Peter Wagner, que achava que uma das grandes necessidades de Bentley era a de uma cobertura espiritual adequada. Ele pediu ao pastor californiano Che Ahn e a Bill Johnson, e ao canadense John Arnott que impusessem as mãos sobre Bentley e o colocassem sob cobertura (apostólica).
Certamente que Todd Bentley carecia de cobertura, pois ninguém deve viver por conta própria, isolado, sem ser cobrado, sem ter alguém por perto para se aconselhar. Seria bom que Wagner cuidasse de Bentley e que este reconhecesse a necessidade de pais espirituais aos quais deveria se submeter. A questão é que não foi nada recomendável fazer este tipo de cerimônia ao vivo pela TV, que na ocasião mais parecia uma cerimônia de coroação. Na realidade estes líderes deveriam ter levado Bentley para um quartinho e falado com ele ao pé do ouvido sobre sua vida pessoal.
A ordenação de um ministro é coisa séria. Paulo recomendou que não se deve impor as mãos precipitadamente sobre alguém para não se tornar “cúmplice de pecados de outrem” (1 Tm 5.22).
Apressamo-nos no processo, mas o apóstolo adverte-nos contra ordenações rápidas, e afirma que os que comissionam um ministro que ainda não está pronto, serão culpados dos fracassos desse obreiro. Acho que Peter Wagner, Bill Johnson e John Arnott não conheciam os problemas de Bentley antes de consagrá-lo. Creio que devem estar tristes pelos acontecimentos desta semana, e que estão socorrendo o casal (Bentley e a esposa) visando a restauração do matrimônio.
Creio que estes líderes, juntamente com Bentley e os proprietários da God TV (TV de Deus) devem uma explicação ao corpo de Cristo, um pedido público de perdão por haverem consagrado um homem tão prematuramente (E tal pedido de perdão deveria ser transmitido pela emissora de TV).
O que colheremos depois disto tudo? Depende da reação do povo. Se os homens encarregados de supervisionar Bentley o cercarem de amor e de firme correção, e se Bentley se submeter à disciplina deixando o ministério até se recuperar, poderíamos ter um caso saudável de disciplina, como se espera da liderança da igreja.
Se todos os que correram para promover a Bentley se arrependerem de seus erros com a mesma velocidade com que o apoiaram poderíamos ter um alento de esperança e acreditar que o movimento seja reerguido.
Creio que Deus quer visitar nossa nação com poder sobrenatural. Sei que ele quer curar as multidões, e continuarei a orar por um avivamento de cura em todos os Estados Unidos. Mas, temos de buscar o que é genuíno, não a imitação. O verdadeiro avivamento vem acompanhado de quebrantamento, humildade, reverência, de arrependimento e não de arrogância; o verdadeiro avivamento não tem show nem líder de destaque como o de Lakeland. Espero que todos do movimento carismático – os pentecostais – orem por Bentley, por sua esposa Shonnah, seus três filhos e pela equipe ministerial dele. Que o homem seja restaurado.
Fonte: www.charismanews.com

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Títulos Honoríficos

Títulos honoríficos

João A. de Souza filho
28/07/2008

Houve tempos – nos tempos antigos - que títulos honoríficos como Sir ou Conde eram concedidos aos amigos do rei. Depois, os títulos passaram a ser concedidos a líderes por serviços prestados a comunidade, e ultimamente os títulos de cidadãos aos amigos de vereadores e prefeitos. Em Brasília, então, os títulos correm à solta!
No cristianismo antigo o pastor era chamado de pastor, não porque fora separado para este fim, mas porque pastoreava – e o povo o honrava chamando-o de pastor. Hoje pastor é meramente um título. É o pastor sem báculo – que administra com o novo cajado pastoral – o computador – a igreja. No Brasil existe uma associação que decide quem deve usar o título de apóstolo – uma espécie de conselho apostólico que distribui títulos mediante imposição de mãos e unção com óleo. Se não passar no crivo do conselho, não é apóstolo, um título que nos dias de Paulo era concedido por Jesus àquele que se dispusesse a ser um subalterno, um ajudante de ordens, um huperete – palavra grega usada para apóstolo no sentido de ajudante de remador. Hoje apóstolo tem regalias, diferentemente daqueles do período apostólico. Bem, mas é sobre títulos que me propus escrever.
Eu sabia de uma pessoa que vendia títulos e diplomas a pastores, até mesmo carteiras de “autoridade” possibilitando passar pelos pedágios sem pagar, e dando certas regalias, comuns aos que estão no poder. Mas agora é oficial. Vi o anúncio logo que abri uma revista evangélica. A página publicitária que deve ter custeado toda a edição da revista ceva o orgulho dos que querem ser ricos, apresentando fórmulas e frases de efeito e, pasmem! Concede títulos dos mais variados.
Entrei no site e descobri que ali você pode comprar o título que quiser. Título de diácono! Convenhamos, ninguém quer título de servo. De ancião – talvez um apelo aos irmãos da Congregação; de pastor, de apóstolo e de bispo! O Preço não é tão caro a alguém que busque reconhecimento e pela relevância atual de um título. Em torno de 1.500 reais. Mas, você pode comprar seu título de mestre, de doutor em divindade – alguém pode me dizer onde alguns desses brasileiros conseguiram o título? Em que universidade famosa? Essa foi a fórmula que a pessoa encontrou de ficar rico: explorar e se aproveitar da ganância de títulos que alguns evangélicos nutrem. Você pode adquirir o título e diploma que quiser. E ainda pode se afiliar aos muitos conselhos e convenções que o site tem à sua disposição.
E percebi, então, que a pessoa que vende títulos e os anuncia numa revista que representa a cara da igreja brasileira é tão comercial quanto a própria revista. Encontrei também o apelo a que se participe de uma programação para pastores ao custo singelo de cento e cinqüenta reais por dia – assim você, como pastor poderá voar mais alto. Esqueça! Você voa baixo, apenas paga para que outros voem mais alto.
A revista na qual li o anúncio representa muito bem a cara da igreja brasileira – sem sentido ético ao aceitar tal tipo de publicidade, pois na igreja evangélica brasileira o que vale, meus amigos, é o lucro. A revista, obviamente, vive do comércio, e com absoluta razão. Agora, convenhamos: Os pregadores que voam mais alto e seus agenciadores estão à cata de lucro fácil. Fiquei sabendo de um pregador que não aceita falar uma noite por menos de quinze mil reais! Os mais “humildes” – leiam-se desconhecidos – chegam a pedir mil e quinhentos reais, por palestra.
Meus amigos, acredito que o dono da igreja – Jesus – chegou ao limite de tolerância.
A cena não me sai da cabeça. Jesus está em frente ao templo, olhando os cambistas – no templo de hoje os cambistas negociam dons. Preso no dedão do pé uma tira de três dobras. Firmemente trança um azorrague. Já está quase pronto. Vai ser aquela correria! Veremos Judas se enforcando, Ananias e Safira morrendo, alguns cegos, aleijados e mortos.
Porque o azorrague de Jesus não só dispersa, mata!

sábado, 26 de julho de 2008

Oração de um crente desesperado

Oração de um crente desesperado
João A. de Souza filho
26/07/2008

Senhor, estou saindo para o culto da igreja. Perdoa-me, Senhor, mas vou de coração partido. Queria tanto cultuar o teu nome, exaltar o teu poder, prostrar-me diante de ti em adoração, como faço aqui em casa, sozinho. Aqui eu me prostro, e fico tanto tempo, às vezes em silêncio, outras em júbilo; às vezes em súplica confessando-te meus pecados; outras vezes uma euforia toma conta de meu espírito ao sentir tua presença. Quanto regozijo quando te adoro!
Mas, agora, Senhor, vou para o culto da igreja. É quase certo que serei conduzido e manipulado espiritualmente por um dirigente de louvor; daqueles, Senhor que fala o tempo todo, que grita, gesticula, pula e não me deixa sequer ter momentos de intimidade contigo. Perdoa-me, Senhor. Às vezes o dirigente do culto está tão empolgado que nem percebe que nos impulsiona como ioiôs, pra cima e pra baixo; ora tenta nos conduzir a adoração e abruptamente nos leva para o júbilo; especialmente quando eu quero chorar!
Já não consigo entoar essas novas músicas tiradas de cds – músicas de cantores solos – empurradas goela abaixo da congregação para que cantem todos; e são músicas solos que não se consegue cantar. Que melodias estranhas, Senhor! E, pior Deus, aquela bateria mal-tocada de novo! Só em me lembrar dos splashes fora te tempo que meu ouvido tem de agüentar, e baque surdo dos tambores entrando pelos meus ouvidos, como gonzos de porta que rangem, deixando-me surdo, Senhor, já não suporto. O trinado contínuo da guitarra solo que fere meus tímpanos, os gritos... E os mesmos acordes do tecladista que não sabe tocar a melodia de um cântico... E hoje terei que suportar tudo isto de novo! Perdoa-me, Senhor, mas vou pro culto contrariado!
E estou tão cansado! Trabalhei horas em pé, e só em pensar que sou forçado a ficar mais uma hora em pé, começo a exsudar, a suar, perco a alegria, o gáudio. Eu que gostaria de me sentir revigorado, descansado e refeito, tenho quase certeza de que voltarei pra casa triste. E os mantras, Senhor. Eles retinem em meus ouvidos, penetram-me a mente e eu fico pensando que é o teu poder! Qual nada! É o efeito da música, apenas! Terei que entoar os mantras repetitivos dos cânticos que parecem intermináveis sob a batida insuportável dos músicos em seus instrumentos. Senhor! Não me deixe ser influenciado pelos mantras; nem que minha tentativa de adoração seja impelida pela influência da música; não deixe minha mente vibrar de júbilo quando sei que é efeito da música e não do Espírito.
E, depois de tudo, Senhor, terei que suportar aquela meia hora de apelo financeiro... Não agüento mais! E a pregação tópica, cheia de frases preparadas e sugestivas, tiradas dos sermonários da Internet que apelam para minhas emoções; enchem-me de altruísmo, mas não o teu; É aquele altruísmo pregado pelos positivistas, das frases prontas, das receitas de dez pontos de sucesso que dizem como devo ser. Eu prefiro ouvir o que a tua palavra diz como devo ser. Mas, esses pregadores, Senhor, têm a fórmula pronta do sucesso da vida cristã e dizem tudo o que eu preciso ser. Como gostaria, Senhor de ouvir a velha pregação expositiva, mas os pregadores deixaram de expor a Bíblia e pregam o que seus ouvintes querem ouvir... Um evangelho comercial de facilidades, de trocas; verdadeiras coceiras nos ouvidos, é tudo de que gostam! Puxa vida! E terei que agüentar tudo de novo!
Senhor! Olha pro teu servo. Tem misericórdia! Esses dias decidi ir noutra igreja, e cantaram durante uma hora – sim, os cantores, um após o outro cantavam “louvores” ao som de play-backs. Aquilo foi insuportável! Já fui até em igreja tradicional, Senhor, mas, na igreja que fui eles também – apesar de tradicionais – acham que é moderno cultuar assim; deixaram os hinos de lado. Senhor, acho que parei no tempo. É isso, Senhor. Parei no tempo. Desisto!
Não estou com saudades dos hinos dos hinários nem dos cânticos antigos, Senhor. Tem cânticos novos melhores que os antigos e tem cânticos antigos melhores que os novos. Tenho, isto sim, saudades das tuas manifestações nas reuniões da igreja, sem a interferência de homens, sejam sob o som de hinos antigos ou dos cânticos novos!
Convenhamos, Senhor. Tenho saudades daqueles cânticos em que a poesia vertia beleza, em que o poeta brincava com as rimas, e encaixava cada sílaba com métrica perfeita, mas hoje, Senhor, confesso: não agüento cantar essas músicas traduzidas sem sentido, com frases mal-feitas que nem se encaixam na métrica; esses cânticos feitos para vender.
Ah! E essas lamúrias desenfreadas que ouço e me deixam deprimido, prostrado, e percebo que não é o Espírito que me leva a prostração; é prostração de alma mesmo, tão depressiva fica a alma depois de entoar tais cânticos! E, no último domingo, Senhor, quantas lamúrias entoaram... Fiquei deprimido com aquelas músicas! Acho que nem Davi suportaria tanta lamúria; porque ele, Senhor sempre terminava seus cânticos com uma nota de júbilo e de vitória.
Tenho saudades dos cultos em que o Espírito Santo agia diretamente, em que os dirigentes de louvores apenas levavam o povo a cantar, e não falavam tanto; em que os cultos não eram feitos de “agora faz isto”; “agora faz aquilo”. Em que o povo acompanha o pregador de Bíblia aberta, examinando o que ele dizia. Os cultos tinham fluidez e graça! As pessoas vinham para o “altar” e se prostravam tocadas por ti; hoje são tocadas pela música, por palavras; levantavam as mãos espontaneamente; adoravam motivadas pela intimidade contigo, e não pela motivação do dirigente! Quando terminava os cultos, Senhor, a gente se entristecia. Anelávamos ficar nos cultos; agora, anelamos pelo término do culto como a corça anseia pelas águas!
Parece que Fantástico se tornou mais atraente; que o Milton Neves encanta melhor seu auditório com a rodada dos gols. Os irmãos, Senhor, querem voltar correndo pra casa! Tão desesperados estão. Os mais fiéis e endinheirados vão para a Pizzaria onde a comunhão que não tiveram no culto é bem melhor que na igreja!
Está bem, Senhor. Vou para o culto de novo, mas levo comigo meus tampões de ouvido, e, por favor, ajude-me a me “desligar” de tudo e ficar ligado só em ti!
Amém!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Salmo 4

Salmo 4
Apelando a Deus


Introdução:
A Companion Bible assegura que este Salmo é uma oração que tem por alvo o Salmo 2 que já estudamos.
Este Salmo apresenta duas pausas, ou Selá, no final dos versículos dois e quatro. Deve ser lido e entendido à luz desta pausa poética. Note a mudança de pensamento entre o versículo 2 e 3 e depois entre o 4 e o 5.

Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração. Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira? Selá
Sabei, porém, que o SENHOR distingue para si o piedoso; o SENHOR me ouve quando eu clamo por ele. Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai. Selá
Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no SENHOR. Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem? SENHOR, levanta sobre nós a luz do teu rosto. Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho. Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me fazes repousar seguro.

O salmista ora a Deus pedindo que o livre das desgraças do passado e do presente (v 2). Ele prova aos seus perseguidores que Deus lhe deu dignidade de realeza, e que o Senhor o protegerá (vv 3-4). Encerra com a certeza de que pode dormir tranqüilo, como no Salmo três que estudamos anteriormente. “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro”.
I. Em meio aos perigos e tribulações, o salmista busca a Deus.
A) O salmista apela à justiça divina. “Ó Deus da minha justiça”.
O ímpio costuma dizer que se veste de justiça própria, mas o santo fala de outra maneira.
B) O salmista apela para a fidelidade de Deus. “Na angústia me tens aliviado”. Ele não se esquecia da fidelidade de Deus para com ele.
C) O salmista apela para a misericórdia divina. “Tem misericórdia de mim”. Vale observar aqui algumas coisas interessantes:
1. A bênção de se apelar para Deus. O homem vive na terra em constante guerra, e a melhor coisa no meio da batalha espiritual é familiarizar-se com as fortalezas do que com sua própria habitação. A pessoa que sabe operar, enfrenta tribulações, mas encontra a saída.
2. Ele estabelece as condições de se apelar a Deus. Só os justos têm este direito. O que Davi pede está em perfeita harmonia com a santidade de Deus. Graça e justiça não se opõem em Deus. Harmonizam-se perfeitamente.
II. Davi lembra seus inimigos que:
A) Não adianta se oporem ao servo de Deus. “Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame?”. Os inimigos queriam manchar o seu bom nome, sua honra. E não podia, porque:
1. Por ser ele um eleito de Deus. “O Senhor distingue para si o piedoso” (v 3).
2. Ele era protegido de Deus. “O Senhor me ouve quando eu clamo por ele” (v 3).
O que vemos neste Salmo? (a) Vemos aqui um alerta aos inimigos de Cristo; e (2) um conforto aos discípulos.
B) Exorta seus inimigos ao arrependimento.
1. Reflitam, diz ele. “Consultai no travesseiro o coração e sossegai” (v 4).
2. Pratiquem obras de justiça. “Oferecei sacrifícios de justiça...” (v 4).

III. O bem essencial.
A) A grande pergunta. “Quem nos dará a conhecer o bem?” (v 6).
B) A resposta certa. “Senhor, levanta sobre nós a luz do teu rosto” (v 6). A resposta deve ser anotada:
1. A espiritualidade da suprema bênção. O mundo tem que saber que as coisas naturais não conseguem atenuar nem expiar a ausência de Deus.
Cito aqui o que escreveu João Osíris em 1558:
“Anote o que há de bom na criação que se vê, no cântico dos pássaros, na beleza das flores, na riqueza dos minérios, na maciez das carnes suculentas, todas são coisas que procedem de Deus, a Fonte abundante; pois toda criação manifesta a Deus. Mas não podemos nos fixar nas coisas criadas. Às vezes o pintor pinta as frutas com tanta perfeição, que os passarinhos pousam sobre a tela tentando comê-las, de tão reais. Quando descobrem que são apenas desenhos, voam à procura da comida verdadeira. O pintor divino colocou em sua criação as cores dele, e a natureza parece ter vida. Mas, são apenas figuras, não a verdade, pois a vaidade deste mundo passa. Você sabe reagir ao perceber que a criação é apenas um quadro e não a realidade? Aja como o pássaro que não encontrando fruta num desenho colorido, sai em busca do verdadeiro alimento. Aprenderá que não existe comida, repouso nem satisfação na criação. Voe para Deus. Ele é muito bom. É o verdadeiro alimento. E só nele temos respostas”.
2. As bênçãos de Deus são a doçura das coisas naturais. As coisas naturais anelam a presença de Deus. Como maná no deserto que caía com o sereno da madrugada, a alma deseja a verdadeira presença de Deus, coisa que o crente carnal não almeja.
3. A bênção de Deus é suficiente, mesmo na ausência de bênçãos naturais. Deus pode satisfazer a alma sem trigo e sem vinho. Spurgeon pregando, citou uma frase de Secker: “Ele é suficiente sem a criação; mas a criação não é suficiente sem ele, portanto, é melhor usufruí-lo sem nada, do que usufruir de tudo sem ele. É melhor ser um vaso de madeira cheio de vinho do que um vaso de ouro com água”.
4. A suficiência da bênção suprema. “Mais alegria me puseste no coração” (v 7), do que a alegria deles que depende do vinho e da fartura. “Quando lhes há fartura de cereal e de vinho”.
5. A paz de se ter Deus é diferente da paz quando se tem tudo, menos Deus. “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (v 8).
A pessoa que confia no Senhor vive com esta consciência de paz; vive na certeza de que está seguro.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O sentido de Selá nos Salmos

Selá

Sempre que se lê os salmos, uma palavrinha misteriosa, “selá”, surge, especialmente em textos mais antigos, como a versão corrigida. No Salmo 3 ela aparece três vezes e fazem toda diferença quando lemos aquele Salmo e identificamos o sentido de “selá”.
Apresento aqui a tradução de um artigo da Companion Bible sobre o tema, um dos melhores artigos a respeito.
Esta palavra pode proceder de duas raízes: sãlãh – pausar ou de sãlal – erguer-se, como erguer os olhos. A palavra deve ser associada ao assunto em questão, e não à música; associada à verdade, e não a um tom musical. Alguns dizem que aparece sempre no começo de uma estrofe; outros, no fim. O fato é que quatro vezes aparece, não entre um versículo e outro, mas no meio do versículo, ou texto, como nos Salmos 55.19; 57.3 e em Habacuque 3.3,9. O que acaba com outras teorias, mas, nos ajuda a concluir que as duas teorias são a metade da mesma verdade. Selá não serve para ligar o fim de uma estrofe com o início de outra. No entanto, em quatro casos Selá conecta o fim de um salmo com o início de outro, unindo, assim, os dois. (Veja os Salmos 3 com o 4; 9 com o 10; 24 com o 25 e o 46 com o 47).
Selá, portanto, não começa nem inicia uma passagem, mas liga as duas passagens onde foram colocadas. Percebe-se isto quando se examina cada ocorrência de Selá. Não é uma pausa do tema, nem a passagem de um tema para outro, mas a ligação ou conexão de dois temas. Por vezes, a estrutura é que está conectada. Às vezes é sintética, e acrescenta o desenvolvimento de um pensamento conectando ou ligando uma oração com o pensamento que forma a base do Salmo. Outras vezes é antitética NT e acrescenta um contraste. Ou conecta uma causa com o efeito ou o efeito com uma causa.
É uma conexão de pensamento que nos leva a refletir ou a olhar para trás ao que acabou de ser dito, sublinhando a conexão com o que será mencionado, ou a algum ensinamento adicional.
Assim, caso derive de sãlãh – pausar, não são os instrumentos que pausam enquanto continua o cântico, e sim o coração é que pausa para refletir e perceber a ligação entre as verdades.
Caso derive de sãlal – erguer, ou erguer os olhos, não são os instrumentos que devem se erguer num volume mais alto, e sim os corações devem se erguer e considerar solenemente as duas verdades que estão para ser conectadas ou ligadas. Tais conexões, que mostram a importância e o objeto de cada Selá, são dadas nas notas cada vez que a palavra ocorre.
Os fenômenos ligados a Selá podem ser descritos assim:
1. A palavra aparece setenta e quatro vezes na Bíblia, e todas no Antigo Testamento. Destas 71 estão nos Salmos e três no livro de Habacuque.
2. Ocorre em 39 Salmos – dos 150 existentes. Em dezesseis deles aparece apenas uma vez – Salmos 7,20,21,44,47,48,50,54,60,61,75,81,82,83,85 e 143. Destes trinta e nove Salmos, trinta e um Salmos são oferecidos ao “mestre de canto”, ou “chefe dos músicos”. (Veja meu artigo sobre o “mestre de canto” à parte). Em 15 Salmos aparece duas vezes: 4, 9, 24, 39, 52, 55, 57, 59, 62, 67, 76, 84, 87 e 88.
Em sete Salmos aparece Selá três vezes: Salmos 3, 32, 46, 66, 68, 77 e 140. Aparece quatro vezes unicamente no Salmo 89. Selá aparece nos cinco livros dos Salmos (veja meu artigo sobre a estrutura do livro de Salmos).
NT Que apresenta antítese; contraditório, contrário.

Salmo 3

Salmo 3

O Salmo três em algumas versões, como na corrigida vem acompanhado, como outros salmos do misterioso “selá”. Para que o meu leitor não se prenda a cada Selá deste Salmo, coloquei à parte um artigo sobre o possível sentido desta palavra. Procure-o e leia!
No entanto, o Salmo três à luz da palavra Selá adquire um sentido maravilhoso. O estudante deve observar a forma quase abrupta na transição dos versículos. Nas versões antigas, como a corrigida, o Selá está no fim do versículo dois, do quatro e do oito.
Observe o texto: “Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. (Selá) Mas tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória e o que exalta a minha cabeça” (vv 2-3 – texto da corrigida). O salmista está reclamando de como se multiplicou o número de adversários, que contra ele se levantam e dizem que não há mais esperança. Repentinamente muda o tom e diz: “Mas, tu Senhor, és meu escudo...”. O Selá é uma pausa na poesia – não na música – que leva o poeta a voltar, a pensar e refletir sobre o passado, como a dizer: “Está bem. Querem me matar, mas esquecem que o Senhor é meu escudo...”.
Davi reclama dos adversários, e de repente, ao refletir sobre o que acabara de dizer, se dá conta de que Deus é seu escudo. Portanto, que venham os homens! Estou protegido em Deus!
A mesma reflexão ou pausa ocorre no final do versículo quatro para o cinco: “Com a minha voz clamei ao Senhor; ele ouviu-me desde o seu santo monte. (Selá) Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou” (vv 4-5). Ele reflete e clama a Deus. Depois que clama em oração se dá conta de que pode descansar, e dormir em paz. O Selá serve para isto. Leva o poeta a parar, pausar, refletir, pensar e retomar o tema.
Já no último versículo o poeta faz outra pausa, assinala outro Selá para entrar no Salmo 4. “A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção. (Selá)
Depois que o leitor compreender a importância da pausa na poesia, entenderá com profundidade o pensamento do poeta; penetrará em sua idéia, conhecerá o íntimo do autor e enxergará pela mesma ótica.
Mas, vejamos, como nos salmos anteriores, como fica bem organizado o pensamento se seguirmos o seguinte esboço:

Minorias e Maiorias

I. A maioria sem Deus.
A) A grandeza da maioria. “Como tem crescido o número...” e “São numerosos os que se levantam contra mim” (v 1). “ São muitos...” (v 2). “Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados” (v 6).
B) A ira da maioria. “São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele” (v 2). Davi caíra num abismo profundo de iniqüidade depois de adulterar com Bate-Seba. A rebelião de Absalão era fruto de uma série de acontecimentos que tiveram início lá atrás com aquele pecado. Não havia como escapar de seus inimigos – um deles, seu conselheiro principal, Aitofel, avô de Bate-Seba que se sentiu ultrajado, e que agora apoiou a Absalão na rebelião.
II. A minoria com Deus. O salmista sentia que fazia parte de uma minoria, mas uma minoria com Deus. Ele acentua aqui cinco coisas:
A) Consciência de segurança. “Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça” (v 3). Esta é a tônica: Em Deus faremos proezas; se Deus é por nós, quem será contra nós? Etc.
B) Refúgio na oração. “Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde” (v 4).Davi está longe do santuário e da arca, mas a voz do solitário pode ser ouvida em qualquer lugar. Este era o segredo dos mártires: a sós com Deus.
Daí sua paz interior.”Deito-me e pego no sono” (vv 5-6). Muitos se deitam em camas macias e não conseguem dormir; Davi deitou-se na terra pedregosa do deserto e dormiu.
C) A certeza da vitória. “... feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras os dentes” (v 7). Ele vê seus inimigos como bestas selvagens que têm os dentes quebrados e já não conseguem devorar sua presa. Deus repreenderá a maldição de Simei, confundirá o bom conselho de Aitofel e frustrará a usurpação de Absalão.
D) Seu temperamento generoso. “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (v 8). O poeta pode se deitar tranqüilo de que não será castigado por Deus.
Eis aqui as lições que podemos aprender deste Salmo:
1. Não acredite na decisão da maioria.
2. Não se iluda com a decisão da maioria.
3. Não receie por estar em minoria, com Deus.
4. A maioria será contra, sempre que Deus estiver com você.
5. Conquista-se a maioria pela devoção e oração.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Salmo 3

Salmo 2
O Homem Rebelde

Introdução:
Não se sabe ao certo em que circunstâncias este Salmo foi escrito. Alguns intérpretes afirmam que Davi o escreveu quando os filisteus o atacaram (2 Samuel 5). De qualquer maneira Davi começa se referindo ao reino terrestre e, profeticamente alarga seu pensamento ao reinado do Messias.

A Companion Bible apresenta uma estrutura interessante para este Salmo.
1. Os primeiros três versículos dizem respeito a reclamação da humanidade em geral, contra o Senhor, o Ungido.
Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. (vv 1-3).
2. Os versículos quatro e cinco mostram a reação do Senhor à decisão dos povos de quererem se livrar de Deus:
Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá.
3. Os versículos seis a nove falam do reino de Jesus Cristo:
Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro.
4. Nos versículo dez e onze, novamente o que dizem os homens:
Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor.
5. Finalmente, no versículo 121 o Filho aparece novamente trazendo juízo:
Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam.

A estrutura do Rev W.L. Watkinson em Homiletic Commentary on the Psalms ajudará o leitor e pregador a fazer uma boa exegese do Salmo 2. O esboço que ele apresenta do Salmo está pronto para ser pregado.

I. Guerra Santa

A. O tamanho da revolta.
Nações, povos, reis e governadores (vv 1-2). O reino de Cristo sempre encontra oposição.
1) Em todas as nações quer judeus, gregos ou romanos.
2) Em pessoas de todo grau de autoridade, sejam reis, povos ou o populacho, todos tentam destruir a fé.
3) Por todas as gerações. Cristo foi rejeitado pelos seus (At 4.27).

B) A revolta se caracteriza pela determinação de apagar o seu nome da terra.
1) Deliberadamente. “Conspiram”.
2) Reúnem-se em conselhos para tramar contra Jesus Cristo.
3) Estão resolutos. “Levantam-se”.
A este respeito diz Mathew Henry: “Era de se esperar que uma bênção dessas para o mundo deveria ser bem-vinda e recebida com alegria; que todos os chefes imediatamente se curvassem ante o Messias, depositando suas coroas e cetros aos seus pés. Mas, acontece o contrário: Filósofos, príncipes e reinos levantam-se de forma tirânica contra o ensino e o reino de Cristo”.

C) A razão secreta desta revolta.
“Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (v 3).
Facilmente o mundo creria nas doutrinas bíblicas se estas não apresentassem nenhuma exigência; e o mundo toleraria a igreja se esta abandonasse seus ensinamentos.

D) A oposição que fazem a Cristo é em vão.
1) Pela irracionalidade dos argumentos. Por que os gentios se enfurecem contra Jesus? A todos os seus inimigos perguntamos: Mas, o que ele fez de errado?
2. Pela inutilidade da argumentação. “Imaginam coisas vãs”, diz o texto. Deus já declarou que seu Filho reinará e que colocará todas as coisas sob seus pés (vv 6-7). Com graça e harmonia o poeta vê Deus rindo da situação!
3. O salmista conclui:
a) Com um conselho: “Sejam prudentes!” (v 10). É melhor vocês se renderem a Cristo do que lhe fazer oposição. Certo filósofo romano disse ao imperador Adriano: “Nunca discuto com um príncipe que tem vinte e quatro legiões a seu dispor”. Todo poder é dado a Jesus Cristo. É melhor se render do que perecer no caminho (v 12). “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (Mt 21.44).
b) Com uma direção: “Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor” (v 11). Temor, devido a sua grandeza e santidade; alegria, por seu amor e pela liberdade de servi-lo.
c) Com um convencimento: “Beijai o filho” (v 12). É melhor se submeter do que ser esmiuçado por seu poder!

II. O reino de Cristo.
Temos aqui uma narrativa do reino mediador de Cristo. Observe:
A) Sua soberania. “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (v 6). O trono de Cristo é exaltado e elevado acima de todos os reinos do mundo.
B) Sua autoridade. “Proclamarei o decreto do Senhor” (v 7). A autoridade dos reis de Israel dependia da submissão ao governo de Deus. Os reis eram como pequenos deuses, ou filhos de Deus.
C) A universalidade do seu reino. As nações são todas dele, por isso as oferece ao filho: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” (v 8).
D) A invencibilidade do reino. “Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro” (v 9). Moll, comentando o texto disse: “Os inimigos de Cristo pensam que o cetro de Cristo é um chicote, como nos dias de seu sofrimento. Mas, envergonhados um dia sentirão o peso do cetro de autoridade nas mãos de Cristo”.
E) A Graciosidade do reino. “deixai-vos advertir, juízes da terra” (v 10). O objetivo de Cristo é abençoar e salvar.

III. As forças antagônicas.
“Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor” (v 11).
A ciência descobriu que as leis do universo estão estabelecidas sobre forças antagônicas; o mesmo ocorrendo com as leis da vida cristã.
A) O texto tem dois sentidos:
1) Servir ao Senhor com temor. Existem o temor servil e o temor filial. Aqui é temor filial. Uma sensibilidade nobre, uma consciência cheia de expectativa, uma apreensão salutar, com “tremor”. “Com difidência – desconfiança. É o tipo de medo que uma pessoa tem de sua difidência de sua força e de seu poder”.
2) Alegre-se! Alegre-se no Senhor Deus. Mostre-se satisfeito, alegre e glorie-se em servir o Senhor.
B) Esses dois aspectos não são incompatíveis...
Temor a alegria parecem contraditórios. Forças, leis, fenômenos que aparentemente são contraditórios se complementam, como o oxigênio e o nitrogênio que se complementam.
C) São dois aspectos importantes no desenvolvimento da vida cristã. Devemos temer e nos alegrar.
Por que se reuniram povos e em vão murmuram as nações? Os reis da terra se posicionaram com os líderes que, secretamente, conspiram contra o Eterno e seu Ungido, dizendo: Rompamos suas amarras e nos livremos de suas cordas... com um cetro de ferro os esmagarás; como a um vaso de barro os estilhaçarás.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Salmos de 1 a 8

Salmos 1 a 8

Os próximos oito Salmos fazem parte da estrutura do primeiro livro dos Salmos que tratam da vida do homem na terra. Conforme apresentamos anteriormente, tal estrutura teria sido arranjada por Esdras. Muitos teólogos tentaram encontrar razões do por que tal estrutura, mas nenhum deles apresenta uma razão ponderável.
O estudante deve refletir sobre estes primeiros oito salmos tendo em mente que a primeira parte da estrutura deste livro trata do “O homem e o Filho do Homem”. Veja a estrutura apresentada anteriormente.
Passemos, agora ao estudo de cada um dos oito primeiros salmos que apresento sob duas perspectivas: a técnica e a reflexiva. Refiro-me a reflexiva, como uma meditação que se faz e lições que se tira de cada um deles. Aqui a imaginação de cada leitor corre solta. Cada pessoa retira a lição ou reflexão que quiser, e sempre vou apresentar a meditação de um ou outro autor sobre cada salmo.

Salmo 1

Este Salmo começa com “Bem-aventurado” (1.1). Vale observar que o Salmo 2 termina com a mesma expressão: “Bem-aventurado”. Isto é, felizes são os que...
Três palavras se destacam no Salmo 1: Andar, deter-se e assentar-te. São três etapas ou situações na caminhada cristã.
1. Andar, conselho e ímpios, dá uma idéia de continuidade.
2. Deter-se, caminho e pecadores, que traz a idéia de ter alguma coisa consigo, e
3. Assentar-se, assento e escarnecedores, que traz a idéia de estacionar, de parar à roda dos que escarnecem de Deus e de seus filhos.

Deixo a seguir para meus leitores o que encontrei no The Preacher’s Homiletic Commentary: 1
“Este Salmo foi posto como o primeiro de todos, porque por seu caráter e tema representa uma introdução a todos os demais salmos. Trata da bênção do justo, e a miséria do ímpio, temas que se repetem em todo o livro”.
Na reflexão que faz do Salmo o Rev W.L.Watkinson usa três estruturas. A primeira parte ele trata das bênçãos, e na segunda, das maldições ou resultados negativos, e na terceira, os resultados em si. O leitor pode conferir:
I. A vida abençoada.
A) O secreto de uma vida abençoada (v 1).
1) Uma relação correta com a vontade de Deus. “O seu prazer está na lei do Senhor”.
2) Uma relação de amor à lei de Deus. “O seu prazer...”. Para esta pessoa a lei não é uma carga pesada a ser carregada, mas um prazer.
3) Uma relação correta com a inteligência da lei de Deus. “Na sua lei medita de dia e de noite”.
B) O retrato de uma vida abençoada (v 3).
1) A certeza de que a bênção está bem alicerçada: “Plantada junto a corrente de águas”.
2) As manifestações dessas bênçãos. A pessoa piedosa é conhecida pela beneficência de sua vida.
3) A perpetuidade das bênçãos. Ele está plantado em local fértil, junto a fontes de água.
4) A universalidade das bênçãos. “e tudo quanto ele faz será bem sucedido” (v 3). Seus frutos são conhecidos.

Watkinson apresenta também uma estrutura para a segunda parte do Salmo 1. “Existe um clímax ao fim de cada expressão. Assim, as três primeiras, andar, assentar-se deter-se, são seguidas de três outras negativas: ímpios, pecadores e escarnecedores”.
II. O erro do ímpio e seu estilo de vida. “Andar no conselho dos ímpios” (v 1). A palavra original para ímpio aqui tem o sentido de pessoa independente de Deus, solta. O ímpio sempre tenta se justificar.
A) Como é a vida do ímpio.
1) Detém-se no caminho dos pecadores.
2) Assenta-se com os escarnecedores.
B) Os resultados de uma vida iníqua. Abençoado é o homem que não caminha no conselho do ímpio. Este versículo nos lembra do seguinte:
1) A natureza insinuada do pecado. Ela penetra no coração.
2) A natureza prolífica do pecado. Um pecado leva ao outro.
3) A natureza amaldiçoada do pecado. Traz miséria e morte.
III. Os resultados.
A) O destino diferente das pessoas. O justo floresce, o ímpio não.
B) O destino das pessoas depende de seu caráter moral e de sua conduta. “Os perversos não prevalecerão no juízo” (v 5).
C) O destino das pessoas é resultado da somatória de seu caráter. Ele é como a palha que o vento dispersa. Não permanece.
Por fim, apresento a tradução do Salmo 1 pela Editora Séfer: 2

Bem-aventurado o homem que não segue os conselhos dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores e nem participa da reunião dos insolentes; mas, ao contrário, se volta para a Lei do Eterno e, dia e noite, a estuda. Ele será como a árvore plantada junto ao ribeiro que produz seu fruto na estação apropriada e cujas folhagens nunca secam; assim também florescerá tudo que fizer. Quanto aos ímpios, são como o feno que o vento espalha. Nem eles prevalecerão em julgamentos, nem os pecadores na assembléia dos justos; pois o Eterno favorece o caminho dos justos, enquanto o dos ímpios os conduz à sua ruína.




1 The Preacher’s Commentary on the books of Psalms, Vol 1, New York, Funk and Wagnalls Company, 1892 pp 1 e 2
2 Salmos com tradução e transliteração, Editora Sêfer

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Estrutura do Livro dos Salmos

Reflexões sobre os Salmos
A Estrutura dos cinco livros

Conhecendo a estrutura do saltério hebraico. Quero dar aos meus leitores uma estrutura dos cinco livros que compõem os Salmos.
Manuscritos antigos, autoridades em documentos massoréticos, o Talmude e versões antigas dividem os salmos em cinco livros. O midrash do Salmo 1 diz: “Moisés deu aos israelitas os cinco livros da lei, e de maneira correspondente Davi lhes deu os cinco livros dos salmos”. A estrutura de cada salmo é perfeita e encontramos a mesma perfeição nos cinco livros como um todo. Várias tentativas foram feitas no passado para saber por que os salmos estão classificados em cinco livros, mas não se achou ainda uma explicação plausível.
Os Salmos e Seus Cinco livros

A estrutura dos Salmos a seguir, apresenta os Salmos divididos em cinco livros, cada um deles correspondendo a um livro do Pentateuco.

I. Livro de Gênesis – Salmos 1 a 41. A respeito do homem. Os conselhos de Deus sobre o homem. Bênçãos ligadas à obediência (Sl 1.1 c/ Gn 1.28). A obediência é a árvore da vida do ser humano. Este livro pode ser dividido em três partes:

A) O Homem e o Filho do Homem.
Salmos 1 a 8.

B) O homem da terra – Salmos 9 a 15
Salmos 9-10. O homem da terra. O anticristo. Seus dias. Seu caráter e seu fim. “horas de tribulação (9.9; 10.1).
C) O Homem Cristo Jesus – Salmos 16-41

II. O segundo ou livro do Êxodo de Israel: Salmos 42 a 72 – A Respeito de Israel como nação.
A) A ruína de Israel – Salmos 42-49
Salmos 42-43. A ruína e a opressão chegaram (42.9; 43.2). Nenhuma ajuda do homem. Começa com lamentações e choro da mesma forma que o livro de Êxodo (c/ Ex 2.23; 3.7-9; 6.9).

B) O Redentor de Israel – Salmos 50-60

C) A Redenção de Israel – Salmos 61-72

III. O Terceiro ou livro de Levítico. Salmos 73-89 – O santuário.
A) O santuário em relação ao homem – Salmos 73-83

B) O santuário em relação ao Senhor – Salmos 84-89
Salmos 84-85. Bênçãos aos que se aproximam do santuário.

IV. O livro de Números. Salmos 90-106 – A respeito de Israel e as demais nações.

Introdução à estrutura do quarto livro. Números é o nome dado pelos homens ao quarto livro do Pentateuco devido ao levantamento do número dos filhos de Israel nos capítulos 1-3 e 26 de Números. O nome deriva do latim Numeri tradução da Septuaginta (Arithmoi). No cânon hebraico é também chamado de Bamidbar que procede de “No Deserto”. O título cobre todos os eventos do livro. Números, portanto, é o livro “do deserto” e fala de todos os tipos do deserto, ou tipos de nossa peregrinação.
No “Número” dos salmos temos fatos semelhantes. E estes se abrem com o Salmo 90: “a oração de Moisés” – o homem do deserto. Seus ensinamentos, como os demais livros são dispensacionais, tendo a terra como pensamento central. O propósito de Deus é celebrado em relação à terra, e as nações do mundo, da ruína à glória, conforme vimos nos três livros anteriores em relação ao homem, a Israel e ao santuário.
O pecado entrou no mundo e arruinou não apenas o homem, mas também a terra. “Maldita a terra por tua causa”. O pecado fez do paraíso um deserto, e a morte encheu a terra de tristeza e lamentos. Não existe esperança para a terra, para as nações, e para toda a criação fora do Senhor. O primeiro e o segundo salmos (90 e 91) tratam disto e têm a nota chave e é o epítome de todo o livro. São personagens deste mundo desértico, quando montanhas, dilúvios, campos, pestes, árvores, etc. que o leitor pode observar se atentar no livro.
Consiste, como no livro III de dezessete salmos todos anônimos (inda que nem todos sem títulos), exceção feita aos salmos 90 (e 91) escritos por Moisés e os 101 e 103 escritos por Davi.

Salmos 90 e 91. Dos títulos divinos neste livro Jeová (Senhor) aparece 126 vezes e Elohim 31. Os salmos 90 e 91 são, evidentemente, um só, divididos em duas partes, escritos por Moisés logo no início dos 38 anos de castigo no deserto, que é o tema deste quarto livro. (Se o Salmo 91 também é de Moisés, então toda escritura citada na tentação do deserto por nosso Senhor – até mesmo as citadas pelo diabo – saíram dos escritos de Moisés).
Quando Deus decretou que todos os homens que saíram com mais de vinte anos do Egito morreriam no deserto – e eram 603.550 homens de guerra – Moisés fez os cálculos, pois é sobre isto que tratam os vv 9 e 10.
Se um homem tinha vinte anos, apto para a guerra, morreria aos 60 anos.
Se tivesse 30, morreria aos 70.
Se tivesse 40 morreria aos 80.
A média de idade seria 30, daí o v 10.
O Salmo 91, por outro lado, mostra o que acontece quando vivemos na “sombra do Onipotente”. É um conforto para a “igreja do deserto” durante aqueles quarenta anos. Quantos foram eliminados no deserto pelo terror noturno, pela flecha que voa de dia, pestilência durante a noite nem a praga ao meio-dia.
A) O Salmo 90 é o prólogo deste livro.

B) O descanso da terra é antecipado. – Salmos 95-100. Note o versículo central do saltério (96.11) e a razão (96.13).

C) Celebrando o descanso da terra. – Salmos 101-105. O trono do Senhor no céu e seu reino sobre todos (103.19).

V. O quinto ou livro de Deuteronômio. Salmos 107 a 150 – A respeito de Deus e sua palavra. “Enviou-lhes a sua palavra, e os sarou, e os livrou do que lhes era mortal” (Sl 107.20).

Com esta estrutura dos Salmos em mente, o leitor poderá acompanhar comigo o estudo de cada salmo do saltério. Apresentarei, ao estudar o Salmo 119 uma estrutura especial deste Salmo que nos permite entender melhor cada parte dele.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Refletindo os Salmos

Refletindo os Salmos

Introdução

Os Salmos têm sido, ao longo dos séculos, fonte de conforto, de desabafo irado e de solução para os cristãos. Nos Salmos o crente em Jesus Cristo encontra a palavra, conselho ou desabafo para todos os momentos da vida. Nestes os salmistas rasgam a alma e colocam pra fora seus sentimentos de alegria, de contentamento, de desesperança e de raiva.
Os Salmos são poesias, cânticos, orações e declarações de homens de Deus que cobrem um período longo – de Moisés a Esdras, e abrangem um período de 1088 anos, desde Moisés (1491 a.C) data da saída do Egito até o dia 1 de Nisã no ano 403 a.C última data mencionada por Esdras. Temos Salmos de Davi, de Asafe, de Salomão, dos filhos de Core, de Esdras e muitos salmos anônimos.
Existem muitos comentários sobre os salmos e, como mestre, pesquisador e escritor percebo que o público leitor não costuma comprar livros nem devocionais sobre os salmos, e não é preciso perguntar o porquê. É que os salmos falam por si mesmos; não apenas por si mesmos, senão também por todos nós. Lecionei sobre os salmos no seminário teológico, e me detive no aspecto técnico e profético, e na fantástica estruturação dos cinco livros que compõem o saltério dos judeus – e de todos nós. O livro é estruturado em cinco partes e cada parte se encaixa a um dos cinco livros de Moisés. Aliás, este tipo de abordagem tem sido feita por escritores em todas as épocas, isto é, associando cada período da história a um livro do Pentateuco. Imagino que, por vezes os historiadores e escritores costumem lucubrar teologicamente sobre matérias transcendentais.
Nesta série de reflexões sobre os salmos, faremos pausas reflexivas para comentar, por exemplo, porque o Salmo 90 – o primeiro da série aparece como o de número noventa, e como Paulo sabia que o Salmo que ele acabara de mencionar era o Salmo 2. E os salmos de romagem, ou cânticos dos degraus, por que têm este nome? Por que havia degraus no templo onde eram entoados pelo povo? Mera especulação porque não havia degraus no templo – quinze degraus dizem os especuladores teológicos que nada têm a dizer e falam tertúlias ao léu. Então, os salmos dos degraus têm um sentido especial e serão comentados nesta série de reflexões sobre os salmos.
A maioria dos comentaristas bíblicos concorda que os salmos foram compilados por Esdras, no pós-cativeiro, e este escriba teve a graça, capacidade e sabedoria para arranjar em ordem os salmos conforme aparecem hoje em nossas Bíblias. Esdras está ali colocando no saltério o Salmo 137, escrito na Babilônia: “Às margens dos rios da Babilônia nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião”.
E por que não comentar sobre o livro de Jó um salmo de intimidade e desabafo? Como o livro de Jó foi colocado à parte no cânon sagrado e é contado entre os livros poéticos da Bíblia – será melhor comentá-lo à parte. Jó é livro que contém mistérios, a começar pela época em que a história teria acontecido e pela aparente disputa de Satanás pela posse da alma humana. Mas, Jó revela que o diabo é limitado por Deus que o controla como um cão bravo – aumentando ou diminuindo o tamanho da coleira.
C.S. Lewis escreveu uma pequena reflexão sobre os Salmos editada em 1958. Foi seu primeiro livro cristão – dizem os editores – em que aborda as maldições que os poetas proferiam contra seus inimigos, as mortes, a conivência (dos ímpios), a natureza e os cânticos de louvores e exaltação a Deus, o Criador. Além da estruturação apresentada no apêndice da Companion Bible, que apresentarei ao leitor faremos um passeio espiritual pelo jardim dos Salmos, contemplando as aléias adornadas de flores; pisaremos nas areias quentes do deserto, sucumbiremos de sede e fome; sentiremos os espinhos penetrar a carne e nos deleitaremos às margens de rios e córregos perenes, de águas cristalinas, porque a espiritualidade de um homem não é medida pela quantidade de bênçãos, mas pelo desconforto espiritual quando enfrenta problemas sem solução aparente.


terça-feira, 27 de maio de 2008

As Lágrimas de Timóteo

As Lágrimas de Timóteo

“Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria...” (2 Tm 1.4).

Duas coisas na vida de Timóteo marcaram a vida do apóstolo Paulo: As lágrimas que Timóteo derramava e a fé genuína, sem fingimento. Paulo está dizendo: “Lembro das suas lágrimas e quero muito ver você outra vez para que eu possa ficar cheio de alegria”. As lágrimas de Timóteo eram a alegria de Paulo. E era a lembrança de ver o moço chorando em lágrimas que levava Paulo a orar pelo jovem noite e dia. Paulo, certamente via Timóteo chorar. Não se pode afirmar que Timóteo costumava derramar lágrimas enquanto orava, ou que o moço era emocionalmente sensível e chorava por qualquer coisa. O certo é que as lágrimas de Timóteo deixaram marcas profundas em Paulo.
Às vezes certas coisas e acontecimentos de nossas vidas deixam marcas nas pessoas que as levarão a se lembrar de nós por toda a vida. As pessoas, quando nos encontram depois de anos sem nos ver comentam que se lembram de certas coisas sobre nós que nem nos lembramos mais. Uma palavra dita, um comentário, um trejeito, um gesto, um acontecimento, etc. Que marcas deixamos nas pessoas? A marca do autoritarismo, do temperamento descontrolado, do serviço espontâneo, das horas gastas em oração e jejuns; do ardor pelas almas; da paixão por Jesus; da adoração intensa; de nossa reação às injustiças, às palavras blasfemas contra nós; de nosso comportamento em casa com a esposa e filhos. São marcas que ficarão na memória dos que nos conhecem.
Por que razão Timóteo chorava? É possível imaginar que Timóteo sentia saudades de casa. Saudades da mãe e da avó que marcaram profundamente sua vida. Quando estava orando Timóteo não percebia que misturado ao calor do evangelho, algumas das lágrimas que lhe rolavam na face eram de saudades da casa. Ou chorava de saudades de seus familiares – às vezes só, escondido – e quem sabe surpreendido por Paulo numa destas ocasiões.
Nada há nas escrituras que permita tirar conclusões sobre as razões das lágrimas de Timóteo; tudo o que se pode dizer são meras conjecturas. No entanto, para poder responder a pergunta acima é necessário encontrar uma base histórico-bíblica da razão das lágrimas do jovem discípulo. E depois de pesquisar, descobre-se que Timóteo aprendeu a chorar com o apóstolo Paulo.
Timóteo chorava porque recebeu de Paulo a marca do sofrimento e do choro. Ele aprendeu com Paulo a se derramar em lágrimas, sim, aprendeu com o Paulo colérico, durão, às vezes insuportável – porque conseguiu tirar a Barnabé e a João Marcos do sério – a chorar diante de Deus.
Timóteo estava presente quando Paulo, dirigindo-se aos líderes de Éfeso e Mileto, duas vezes refere-se às lágrimas que derramava, testemunhando de seu ardor pelo evangelho.
Por isso pode-se afirmar que Timóteo aprendeu a chorar com Paulo diante do sofrimento que lhe era imposto pelos perseguidores do evangelho: “servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19). Esses dois homens de Deus sabiam que as lágrimas derramadas pelas perseguições ao evangelho são guardadas por Deus como relicário de uma vida devotada a Deus. “Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” (Sl 56.8). Três coisas são destacadas por Davi: Os passos do perseguido são contabilizados por Deus; as lágrimas são recolhidas numa vasilha e ficam registradas nos anais divinos.
Timóteo aprendeu com Paulo a chorar diante de Deus pela vida dos irmãos. É sobre isto que Paulo se refere aos líderes da igreja: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.31). Foram três anos de choro e derramamento de lágrimas pela vida dos irmãos de Éfeso e Mileto. Noite e dia Timóteo via a Paulo orar em lágrimas pelas igrejas, mencionando nome por nome diante de Deus. Paulo escreveu: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai...” (Ef 3.14), “fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações...” (Fp 1.3).
Timóteo aprendeu com Paulo a chorar diante de Deus pela incompreensão e desprezo dos irmãos que, apesar dos sofrimentos, das perseguições que este sofria dos judeus, não compreendiam o coração do apóstolo e não aceitavam suas exortações. Paulo escreve sobre isto: “Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida (2 Co 2.4). Timóteo via as lágrimas de seu mentor molharem a carta que Paulo escrevia para as igrejas. Que dedicação de Paulo. Quantas lágrimas Paulo derramava e Timóteo chorava com Paulo.
Timóteo era o companheiro de lágrimas de Paulo. Daí a alegria do apóstolo.
Agora na cela de sua prisão em Roma, havendo já recebido a sentença de morte por decapitação, a mente de Paulo fazia um circuito pelas regiões por onde andara e tinha tempo para pensar em cada um de seus companheiros de labuta. Lembrou-se de João Marcos, arrependeu-se de o haver tratado tão mal e agora conseguia enxergar a importância de tê-lo por perto; de Trófimo – como estará o guerreiro que deixou enfermo em Mileto? Lembrou-se de Epafras ou Epafrodito que adoeceu mortalmente e foi restabelecido por Deus. Que falta lhe fazia a capa que deixou na casa de Carpo em Trôade, e os livros de que tanto gostava – deixara tudo quando fugiu para salvar sua vida. Lembrou-se de Alexandre, sendo agora castigado por Satanás pelos males que lhe infligira, de Demas que renunciou à fé preferindo os prazeres do mundo. E, dentre todas as lembranças uma cena não lhe saía da mente: as lágrimas de Timóteo.
“Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria...”.
Lágrimas que marcam.
Você sente saudades das lágrimas de seu companheiro de jugo?

João e suas tendas

João e suas tendas

“Pela fé, peregrinou (Abraão) habitando em tendas...” (Hb 11.9).

Quando Abraão habitava em tendas ele carrega apenas o necessário para a sobrevivência. Os tempos modernos, no entanto, nos permite viver em tendas e ainda carregar coisas além do necessário. Carrega-se, por exemplo, os livros. Acho que era isto o que Paulo fazia: Levava consigo somente o necessário, e entre as necessidades, seus poucos livros. Um dia, quem sabe, fugindo de alguma perseguição os esqueceu! A capa e os livros ficaram na casa de Carpo, em Trôade.
Pois ao longo desses 44 anos de ministério já fixei residência nos Estados Unidos – e deixei os livros lá mesmo. Residi no Rio de Janeiro e os livros ficaram pra trás. Meus primeiros livros que ganhei do Orlando Boyer quando residia em Pindamonhangaba mudaram de mãos. Residi no Paraná e os livros foram ficando porque não cabiam nas tendas. Quando não havia lugar para todos aqueles livros na casa, olhei aquelas prateleiras repletas de livros – tão necessários – e doei metade deles para meus amigos. Ao longo desses anos acumulei tantos livros – e tantos bens – quanto deles me despojei. Mas foi em Porto Alegre que as raízes se fincaram com mais profundidade.
E agora novamente. É preciso levantar acampamento, afrouxar as estacas, dobrar as lonas e seguir adiante. Com alguns livros na bagagem. E todos aqueles sermões, e pastas, cartas de amigos, recortes disso ou daquilo foram dados a amigos ou foram para o arquivo geral: o lixo! Sim, lixo é o arquivo geral! Quem vive em tendas não pode se dar ao luxo de ser colecionador disto ou daquilo. Assim, ao longo dos anos minhas “velharias”, isto é, as antiguidades foram doadas aos amigos. Estão em suas chácaras e casas de campo, mas não mais comigo. A coleção de selos foi vendida. Numismático, ainda conservo notas de dinheiro e moedas antigas, até que algum neto se interesse por elas.
O peregrino não pode se dar ao luxo de levar muita coisa, a não ser o bordão, a capa e alguns livros. Por isso, a biblioteca de milhares de livros, de repente, diminuiu. Agora decidi ficar apenas com os clássicos, com alguns livros importantes, especialmente os de pesquisa. Abraão era peregrino numa terra que era sua pela fé; eu sou peregrino numa terra que não é minha, pois avisto outra terra, mais além, também pela fé.
Como peregrino e profeta até mesmo nossa história – aquilo que documenta nosso trajeto e o que fizemos – é deixada em segundo lugar. Não há espaço na tenda para cartas antigas, recortes de fotos e artigos de jornais, fotografias, fitas de vídeo, fitas cassete, LP’s antigos. Nada. Na mochila só vai o indispensável para a sobrevivência do caminho. Nas mãos, o cajado.
Existe uma coisa que deixa saudades no peregrino. Os familiares. Mas, depois que mamãe se foi para o lar eterno, apeguei-me aos netos. Ah! Os netos! A modernidade, no entanto, permite que a gente os veja todos os dias pela Webcam. Eles também seguem sua própria jornada nesta vida.
Rebeca deixou a casa dos pais, para sempre. Pra lá nunca mais voltou. Os apóstolos de Jesus não foram sepultados nos sepulcros de seus pais. A bela e romântica Galiléia ficou para trás. Os apóstolos morreram longe de seus parentes e de sua terra. Seus corpos foram queimados, jogado às feras. Nenhuma lápide de elogio sobre o sepulcro. Partiram para o lar celestial. Ficaram suas epístolas.
O importante, meus amigos, não é o que se leva daqui; mas o legado que deixamos. Deixo no Rio Grande do Sul um legado de história e de retidão. E agora, fixo residência por tempo indeterminado na simpática e progressiva Santa Bárbara do Oeste, ao lado de Americana, São Paulo. É de lá que sairei por terra e ar para continuar a missão que Deus me deu por este Brasil a fora!
Mais próximo de alguns de vocês, que verei seguidamente!