terça-feira, 27 de maio de 2008

As Lágrimas de Timóteo

As Lágrimas de Timóteo

“Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria...” (2 Tm 1.4).

Duas coisas na vida de Timóteo marcaram a vida do apóstolo Paulo: As lágrimas que Timóteo derramava e a fé genuína, sem fingimento. Paulo está dizendo: “Lembro das suas lágrimas e quero muito ver você outra vez para que eu possa ficar cheio de alegria”. As lágrimas de Timóteo eram a alegria de Paulo. E era a lembrança de ver o moço chorando em lágrimas que levava Paulo a orar pelo jovem noite e dia. Paulo, certamente via Timóteo chorar. Não se pode afirmar que Timóteo costumava derramar lágrimas enquanto orava, ou que o moço era emocionalmente sensível e chorava por qualquer coisa. O certo é que as lágrimas de Timóteo deixaram marcas profundas em Paulo.
Às vezes certas coisas e acontecimentos de nossas vidas deixam marcas nas pessoas que as levarão a se lembrar de nós por toda a vida. As pessoas, quando nos encontram depois de anos sem nos ver comentam que se lembram de certas coisas sobre nós que nem nos lembramos mais. Uma palavra dita, um comentário, um trejeito, um gesto, um acontecimento, etc. Que marcas deixamos nas pessoas? A marca do autoritarismo, do temperamento descontrolado, do serviço espontâneo, das horas gastas em oração e jejuns; do ardor pelas almas; da paixão por Jesus; da adoração intensa; de nossa reação às injustiças, às palavras blasfemas contra nós; de nosso comportamento em casa com a esposa e filhos. São marcas que ficarão na memória dos que nos conhecem.
Por que razão Timóteo chorava? É possível imaginar que Timóteo sentia saudades de casa. Saudades da mãe e da avó que marcaram profundamente sua vida. Quando estava orando Timóteo não percebia que misturado ao calor do evangelho, algumas das lágrimas que lhe rolavam na face eram de saudades da casa. Ou chorava de saudades de seus familiares – às vezes só, escondido – e quem sabe surpreendido por Paulo numa destas ocasiões.
Nada há nas escrituras que permita tirar conclusões sobre as razões das lágrimas de Timóteo; tudo o que se pode dizer são meras conjecturas. No entanto, para poder responder a pergunta acima é necessário encontrar uma base histórico-bíblica da razão das lágrimas do jovem discípulo. E depois de pesquisar, descobre-se que Timóteo aprendeu a chorar com o apóstolo Paulo.
Timóteo chorava porque recebeu de Paulo a marca do sofrimento e do choro. Ele aprendeu com Paulo a se derramar em lágrimas, sim, aprendeu com o Paulo colérico, durão, às vezes insuportável – porque conseguiu tirar a Barnabé e a João Marcos do sério – a chorar diante de Deus.
Timóteo estava presente quando Paulo, dirigindo-se aos líderes de Éfeso e Mileto, duas vezes refere-se às lágrimas que derramava, testemunhando de seu ardor pelo evangelho.
Por isso pode-se afirmar que Timóteo aprendeu a chorar com Paulo diante do sofrimento que lhe era imposto pelos perseguidores do evangelho: “servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19). Esses dois homens de Deus sabiam que as lágrimas derramadas pelas perseguições ao evangelho são guardadas por Deus como relicário de uma vida devotada a Deus. “Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” (Sl 56.8). Três coisas são destacadas por Davi: Os passos do perseguido são contabilizados por Deus; as lágrimas são recolhidas numa vasilha e ficam registradas nos anais divinos.
Timóteo aprendeu com Paulo a chorar diante de Deus pela vida dos irmãos. É sobre isto que Paulo se refere aos líderes da igreja: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.31). Foram três anos de choro e derramamento de lágrimas pela vida dos irmãos de Éfeso e Mileto. Noite e dia Timóteo via a Paulo orar em lágrimas pelas igrejas, mencionando nome por nome diante de Deus. Paulo escreveu: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai...” (Ef 3.14), “fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações...” (Fp 1.3).
Timóteo aprendeu com Paulo a chorar diante de Deus pela incompreensão e desprezo dos irmãos que, apesar dos sofrimentos, das perseguições que este sofria dos judeus, não compreendiam o coração do apóstolo e não aceitavam suas exortações. Paulo escreve sobre isto: “Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida (2 Co 2.4). Timóteo via as lágrimas de seu mentor molharem a carta que Paulo escrevia para as igrejas. Que dedicação de Paulo. Quantas lágrimas Paulo derramava e Timóteo chorava com Paulo.
Timóteo era o companheiro de lágrimas de Paulo. Daí a alegria do apóstolo.
Agora na cela de sua prisão em Roma, havendo já recebido a sentença de morte por decapitação, a mente de Paulo fazia um circuito pelas regiões por onde andara e tinha tempo para pensar em cada um de seus companheiros de labuta. Lembrou-se de João Marcos, arrependeu-se de o haver tratado tão mal e agora conseguia enxergar a importância de tê-lo por perto; de Trófimo – como estará o guerreiro que deixou enfermo em Mileto? Lembrou-se de Epafras ou Epafrodito que adoeceu mortalmente e foi restabelecido por Deus. Que falta lhe fazia a capa que deixou na casa de Carpo em Trôade, e os livros de que tanto gostava – deixara tudo quando fugiu para salvar sua vida. Lembrou-se de Alexandre, sendo agora castigado por Satanás pelos males que lhe infligira, de Demas que renunciou à fé preferindo os prazeres do mundo. E, dentre todas as lembranças uma cena não lhe saía da mente: as lágrimas de Timóteo.
“Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria...”.
Lágrimas que marcam.
Você sente saudades das lágrimas de seu companheiro de jugo?

João e suas tendas

João e suas tendas

“Pela fé, peregrinou (Abraão) habitando em tendas...” (Hb 11.9).

Quando Abraão habitava em tendas ele carrega apenas o necessário para a sobrevivência. Os tempos modernos, no entanto, nos permite viver em tendas e ainda carregar coisas além do necessário. Carrega-se, por exemplo, os livros. Acho que era isto o que Paulo fazia: Levava consigo somente o necessário, e entre as necessidades, seus poucos livros. Um dia, quem sabe, fugindo de alguma perseguição os esqueceu! A capa e os livros ficaram na casa de Carpo, em Trôade.
Pois ao longo desses 44 anos de ministério já fixei residência nos Estados Unidos – e deixei os livros lá mesmo. Residi no Rio de Janeiro e os livros ficaram pra trás. Meus primeiros livros que ganhei do Orlando Boyer quando residia em Pindamonhangaba mudaram de mãos. Residi no Paraná e os livros foram ficando porque não cabiam nas tendas. Quando não havia lugar para todos aqueles livros na casa, olhei aquelas prateleiras repletas de livros – tão necessários – e doei metade deles para meus amigos. Ao longo desses anos acumulei tantos livros – e tantos bens – quanto deles me despojei. Mas foi em Porto Alegre que as raízes se fincaram com mais profundidade.
E agora novamente. É preciso levantar acampamento, afrouxar as estacas, dobrar as lonas e seguir adiante. Com alguns livros na bagagem. E todos aqueles sermões, e pastas, cartas de amigos, recortes disso ou daquilo foram dados a amigos ou foram para o arquivo geral: o lixo! Sim, lixo é o arquivo geral! Quem vive em tendas não pode se dar ao luxo de ser colecionador disto ou daquilo. Assim, ao longo dos anos minhas “velharias”, isto é, as antiguidades foram doadas aos amigos. Estão em suas chácaras e casas de campo, mas não mais comigo. A coleção de selos foi vendida. Numismático, ainda conservo notas de dinheiro e moedas antigas, até que algum neto se interesse por elas.
O peregrino não pode se dar ao luxo de levar muita coisa, a não ser o bordão, a capa e alguns livros. Por isso, a biblioteca de milhares de livros, de repente, diminuiu. Agora decidi ficar apenas com os clássicos, com alguns livros importantes, especialmente os de pesquisa. Abraão era peregrino numa terra que era sua pela fé; eu sou peregrino numa terra que não é minha, pois avisto outra terra, mais além, também pela fé.
Como peregrino e profeta até mesmo nossa história – aquilo que documenta nosso trajeto e o que fizemos – é deixada em segundo lugar. Não há espaço na tenda para cartas antigas, recortes de fotos e artigos de jornais, fotografias, fitas de vídeo, fitas cassete, LP’s antigos. Nada. Na mochila só vai o indispensável para a sobrevivência do caminho. Nas mãos, o cajado.
Existe uma coisa que deixa saudades no peregrino. Os familiares. Mas, depois que mamãe se foi para o lar eterno, apeguei-me aos netos. Ah! Os netos! A modernidade, no entanto, permite que a gente os veja todos os dias pela Webcam. Eles também seguem sua própria jornada nesta vida.
Rebeca deixou a casa dos pais, para sempre. Pra lá nunca mais voltou. Os apóstolos de Jesus não foram sepultados nos sepulcros de seus pais. A bela e romântica Galiléia ficou para trás. Os apóstolos morreram longe de seus parentes e de sua terra. Seus corpos foram queimados, jogado às feras. Nenhuma lápide de elogio sobre o sepulcro. Partiram para o lar celestial. Ficaram suas epístolas.
O importante, meus amigos, não é o que se leva daqui; mas o legado que deixamos. Deixo no Rio Grande do Sul um legado de história e de retidão. E agora, fixo residência por tempo indeterminado na simpática e progressiva Santa Bárbara do Oeste, ao lado de Americana, São Paulo. É de lá que sairei por terra e ar para continuar a missão que Deus me deu por este Brasil a fora!
Mais próximo de alguns de vocês, que verei seguidamente!