segunda-feira, 28 de julho de 2008

Títulos Honoríficos

Títulos honoríficos

João A. de Souza filho
28/07/2008

Houve tempos – nos tempos antigos - que títulos honoríficos como Sir ou Conde eram concedidos aos amigos do rei. Depois, os títulos passaram a ser concedidos a líderes por serviços prestados a comunidade, e ultimamente os títulos de cidadãos aos amigos de vereadores e prefeitos. Em Brasília, então, os títulos correm à solta!
No cristianismo antigo o pastor era chamado de pastor, não porque fora separado para este fim, mas porque pastoreava – e o povo o honrava chamando-o de pastor. Hoje pastor é meramente um título. É o pastor sem báculo – que administra com o novo cajado pastoral – o computador – a igreja. No Brasil existe uma associação que decide quem deve usar o título de apóstolo – uma espécie de conselho apostólico que distribui títulos mediante imposição de mãos e unção com óleo. Se não passar no crivo do conselho, não é apóstolo, um título que nos dias de Paulo era concedido por Jesus àquele que se dispusesse a ser um subalterno, um ajudante de ordens, um huperete – palavra grega usada para apóstolo no sentido de ajudante de remador. Hoje apóstolo tem regalias, diferentemente daqueles do período apostólico. Bem, mas é sobre títulos que me propus escrever.
Eu sabia de uma pessoa que vendia títulos e diplomas a pastores, até mesmo carteiras de “autoridade” possibilitando passar pelos pedágios sem pagar, e dando certas regalias, comuns aos que estão no poder. Mas agora é oficial. Vi o anúncio logo que abri uma revista evangélica. A página publicitária que deve ter custeado toda a edição da revista ceva o orgulho dos que querem ser ricos, apresentando fórmulas e frases de efeito e, pasmem! Concede títulos dos mais variados.
Entrei no site e descobri que ali você pode comprar o título que quiser. Título de diácono! Convenhamos, ninguém quer título de servo. De ancião – talvez um apelo aos irmãos da Congregação; de pastor, de apóstolo e de bispo! O Preço não é tão caro a alguém que busque reconhecimento e pela relevância atual de um título. Em torno de 1.500 reais. Mas, você pode comprar seu título de mestre, de doutor em divindade – alguém pode me dizer onde alguns desses brasileiros conseguiram o título? Em que universidade famosa? Essa foi a fórmula que a pessoa encontrou de ficar rico: explorar e se aproveitar da ganância de títulos que alguns evangélicos nutrem. Você pode adquirir o título e diploma que quiser. E ainda pode se afiliar aos muitos conselhos e convenções que o site tem à sua disposição.
E percebi, então, que a pessoa que vende títulos e os anuncia numa revista que representa a cara da igreja brasileira é tão comercial quanto a própria revista. Encontrei também o apelo a que se participe de uma programação para pastores ao custo singelo de cento e cinqüenta reais por dia – assim você, como pastor poderá voar mais alto. Esqueça! Você voa baixo, apenas paga para que outros voem mais alto.
A revista na qual li o anúncio representa muito bem a cara da igreja brasileira – sem sentido ético ao aceitar tal tipo de publicidade, pois na igreja evangélica brasileira o que vale, meus amigos, é o lucro. A revista, obviamente, vive do comércio, e com absoluta razão. Agora, convenhamos: Os pregadores que voam mais alto e seus agenciadores estão à cata de lucro fácil. Fiquei sabendo de um pregador que não aceita falar uma noite por menos de quinze mil reais! Os mais “humildes” – leiam-se desconhecidos – chegam a pedir mil e quinhentos reais, por palestra.
Meus amigos, acredito que o dono da igreja – Jesus – chegou ao limite de tolerância.
A cena não me sai da cabeça. Jesus está em frente ao templo, olhando os cambistas – no templo de hoje os cambistas negociam dons. Preso no dedão do pé uma tira de três dobras. Firmemente trança um azorrague. Já está quase pronto. Vai ser aquela correria! Veremos Judas se enforcando, Ananias e Safira morrendo, alguns cegos, aleijados e mortos.
Porque o azorrague de Jesus não só dispersa, mata!

sábado, 26 de julho de 2008

Oração de um crente desesperado

Oração de um crente desesperado
João A. de Souza filho
26/07/2008

Senhor, estou saindo para o culto da igreja. Perdoa-me, Senhor, mas vou de coração partido. Queria tanto cultuar o teu nome, exaltar o teu poder, prostrar-me diante de ti em adoração, como faço aqui em casa, sozinho. Aqui eu me prostro, e fico tanto tempo, às vezes em silêncio, outras em júbilo; às vezes em súplica confessando-te meus pecados; outras vezes uma euforia toma conta de meu espírito ao sentir tua presença. Quanto regozijo quando te adoro!
Mas, agora, Senhor, vou para o culto da igreja. É quase certo que serei conduzido e manipulado espiritualmente por um dirigente de louvor; daqueles, Senhor que fala o tempo todo, que grita, gesticula, pula e não me deixa sequer ter momentos de intimidade contigo. Perdoa-me, Senhor. Às vezes o dirigente do culto está tão empolgado que nem percebe que nos impulsiona como ioiôs, pra cima e pra baixo; ora tenta nos conduzir a adoração e abruptamente nos leva para o júbilo; especialmente quando eu quero chorar!
Já não consigo entoar essas novas músicas tiradas de cds – músicas de cantores solos – empurradas goela abaixo da congregação para que cantem todos; e são músicas solos que não se consegue cantar. Que melodias estranhas, Senhor! E, pior Deus, aquela bateria mal-tocada de novo! Só em me lembrar dos splashes fora te tempo que meu ouvido tem de agüentar, e baque surdo dos tambores entrando pelos meus ouvidos, como gonzos de porta que rangem, deixando-me surdo, Senhor, já não suporto. O trinado contínuo da guitarra solo que fere meus tímpanos, os gritos... E os mesmos acordes do tecladista que não sabe tocar a melodia de um cântico... E hoje terei que suportar tudo isto de novo! Perdoa-me, Senhor, mas vou pro culto contrariado!
E estou tão cansado! Trabalhei horas em pé, e só em pensar que sou forçado a ficar mais uma hora em pé, começo a exsudar, a suar, perco a alegria, o gáudio. Eu que gostaria de me sentir revigorado, descansado e refeito, tenho quase certeza de que voltarei pra casa triste. E os mantras, Senhor. Eles retinem em meus ouvidos, penetram-me a mente e eu fico pensando que é o teu poder! Qual nada! É o efeito da música, apenas! Terei que entoar os mantras repetitivos dos cânticos que parecem intermináveis sob a batida insuportável dos músicos em seus instrumentos. Senhor! Não me deixe ser influenciado pelos mantras; nem que minha tentativa de adoração seja impelida pela influência da música; não deixe minha mente vibrar de júbilo quando sei que é efeito da música e não do Espírito.
E, depois de tudo, Senhor, terei que suportar aquela meia hora de apelo financeiro... Não agüento mais! E a pregação tópica, cheia de frases preparadas e sugestivas, tiradas dos sermonários da Internet que apelam para minhas emoções; enchem-me de altruísmo, mas não o teu; É aquele altruísmo pregado pelos positivistas, das frases prontas, das receitas de dez pontos de sucesso que dizem como devo ser. Eu prefiro ouvir o que a tua palavra diz como devo ser. Mas, esses pregadores, Senhor, têm a fórmula pronta do sucesso da vida cristã e dizem tudo o que eu preciso ser. Como gostaria, Senhor de ouvir a velha pregação expositiva, mas os pregadores deixaram de expor a Bíblia e pregam o que seus ouvintes querem ouvir... Um evangelho comercial de facilidades, de trocas; verdadeiras coceiras nos ouvidos, é tudo de que gostam! Puxa vida! E terei que agüentar tudo de novo!
Senhor! Olha pro teu servo. Tem misericórdia! Esses dias decidi ir noutra igreja, e cantaram durante uma hora – sim, os cantores, um após o outro cantavam “louvores” ao som de play-backs. Aquilo foi insuportável! Já fui até em igreja tradicional, Senhor, mas, na igreja que fui eles também – apesar de tradicionais – acham que é moderno cultuar assim; deixaram os hinos de lado. Senhor, acho que parei no tempo. É isso, Senhor. Parei no tempo. Desisto!
Não estou com saudades dos hinos dos hinários nem dos cânticos antigos, Senhor. Tem cânticos novos melhores que os antigos e tem cânticos antigos melhores que os novos. Tenho, isto sim, saudades das tuas manifestações nas reuniões da igreja, sem a interferência de homens, sejam sob o som de hinos antigos ou dos cânticos novos!
Convenhamos, Senhor. Tenho saudades daqueles cânticos em que a poesia vertia beleza, em que o poeta brincava com as rimas, e encaixava cada sílaba com métrica perfeita, mas hoje, Senhor, confesso: não agüento cantar essas músicas traduzidas sem sentido, com frases mal-feitas que nem se encaixam na métrica; esses cânticos feitos para vender.
Ah! E essas lamúrias desenfreadas que ouço e me deixam deprimido, prostrado, e percebo que não é o Espírito que me leva a prostração; é prostração de alma mesmo, tão depressiva fica a alma depois de entoar tais cânticos! E, no último domingo, Senhor, quantas lamúrias entoaram... Fiquei deprimido com aquelas músicas! Acho que nem Davi suportaria tanta lamúria; porque ele, Senhor sempre terminava seus cânticos com uma nota de júbilo e de vitória.
Tenho saudades dos cultos em que o Espírito Santo agia diretamente, em que os dirigentes de louvores apenas levavam o povo a cantar, e não falavam tanto; em que os cultos não eram feitos de “agora faz isto”; “agora faz aquilo”. Em que o povo acompanha o pregador de Bíblia aberta, examinando o que ele dizia. Os cultos tinham fluidez e graça! As pessoas vinham para o “altar” e se prostravam tocadas por ti; hoje são tocadas pela música, por palavras; levantavam as mãos espontaneamente; adoravam motivadas pela intimidade contigo, e não pela motivação do dirigente! Quando terminava os cultos, Senhor, a gente se entristecia. Anelávamos ficar nos cultos; agora, anelamos pelo término do culto como a corça anseia pelas águas!
Parece que Fantástico se tornou mais atraente; que o Milton Neves encanta melhor seu auditório com a rodada dos gols. Os irmãos, Senhor, querem voltar correndo pra casa! Tão desesperados estão. Os mais fiéis e endinheirados vão para a Pizzaria onde a comunhão que não tiveram no culto é bem melhor que na igreja!
Está bem, Senhor. Vou para o culto de novo, mas levo comigo meus tampões de ouvido, e, por favor, ajude-me a me “desligar” de tudo e ficar ligado só em ti!
Amém!