segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Salmo 73

Salmo 73 – Quanto a mim...

Nota: O grande pregador Campbel Morgan me auxiliou muitíssimo na preparação deste sermão. Mas, não me detive apenas nele, mas em outros comentários de Salmos como em The Preacher´s Homiletic Commmentary, no comentário de Willian Jones.
Se você tem interesse em estudar este Salmo, sugiro que primeira leia todo ele, e depois comece a estudar na ordem aqui apresentada.

Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo. Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos (73.1-2).

Int. Uma das características dos salmos é que seus autores abrem o jogo sobre si mesmos, seus problemas, suas reflexões e suas dúvidas.
Eles não querem se exibir. Há pessoas que costumam confessar seus pecados para poder se exibir.
Este Salmo começa com uma declaração e termina com outra declaração. Entre estas temos a confissão de um autor, Asafe. Ele começa com uma expressão de vitória, de alegria! Este homem conta sua experiência particular, de olhar para a vida dos outros e comparar com a sua. Ele fornece uma descrição da vida dos outros.
I – A perplexidade toma conta dos autores dos salmos.
1. A perplexidade do autor não é surpreendente. Nós estamos tratando da mente de Deus que é diferente da mente humana. Temos a idéia de que Deus é obrigado a abençoar os seus filhos e a dar-lhes tudo o que eles desejam. Mas Deus pensa diferentemente de nós, como diz Isaías: “Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês. Assim como o céu está muito acima da terra, assim os meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus” (Is 55.8-9).
2. A segunda coisa que vemos aqui é que não é pecado ficar perplexo. Tem crentes que acham que o céu será sempre azul, límpido e brilhante. É errado ficar num estado de desespero, mas não é errado sentir-se perplexo. Paulo já dizia: “Perplexos, mas não desanimados” (2 Co 4.8). – Perplexidade: Indecisão.
a) Apesar de não ser pecado sentir-se perplexo, a perplexidade sempre abre a porta para a tentação. A tentação não apenas abala, ela pode derrubar o maior dos santos. Por isso o salmista diz: “Quanto a mim, os meus pés quase se desviaram...”. Jamais esqueça que o poder do inimigo contra nós somente é inferior ao poder de Deus. Paulo diz: “Revistam-se de toda armadura de Deus”. Necessitamos de toda armadura divina para poder vencer as tentações. Foi este tipo de tentação que tomou conta da vida de Paulo em 2 Coríntios 12.
3. A terceira coisa que vemos aqui é que a tentação produz cegueira espiritual. Veja como ele diz: “Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos”. A tentação não deixa a gente pensar com clareza. “Você não acha que não vale a pena se santificar, se abster de certas coisas, e ver que no fim, os outros ainda estão melhor que nós?” (v 13). Parece que não adiantou nada eu me conservar puro e ter as mãos limpas de pecado. Ouça o diabo sussurrando em seu ouvido: “Não adianta você querer se bonzinho; você é mau por natureza...”. “Não adianta ser crente. Os ímpios não crêem em Deus e vivem melhor que você!
4. Temos de aprender a lidar com a tentação quando ela vem. É isto que o salmista tenta nos dizer. “Chegamos a conclusão de que Deus é bom para Israel”. Mas, será que ele é sempre bom? Podemos dizer isto sem culpa? O salmista acrescenta: “...para com os de coração limpo”. Como em Romanos 8.28: “Todas as coisas cooperam para o bem dos amam a Deus...”.
A perplexidade não o levou à queda, mas à reflexão!
Hino: tentado não cedas, ceder é pecar!

II. Tomando pé da situação.
“Se eu tivesse falado como os maus, teria traído o teu povo. Então eu me esforcei para entender essas coisas, mas isso era difícil demais para mim” (15-16).

Os salmos não devem ser utilizados como tranqüilizantes; nem como um tratamento psicológico. Ou como poesia. Os salmos são tudo isto, mas eles têm como finalidade retratar a vida espiritual e as experiências de seus autores. Olha para Jesus! Mas, isto não é tudo. Deve haver disciplina. Se você estudar a vida dos puritanos, como Richard Baxter, dos metodistas, como os Wesleys e Whitfied, verá que eram disciplinados na vida cristã.
1. A grande arte da vida cristã é aprender a refletir e dirigir-se a si mesmo. Ele se refreou. O texto acima pressupõe que o autor ia dizer algo, mas parou. Ia falar. Ficou quieto. Ele refletiu antes de falar novamente.

III. A necessidade de revelação.

“...até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles” (v 17).

A capacidade de raciocinar e a reflexão nem sempre têm todas as respostas. É preciso que o homem receba um toque de revelação, uma luz para entender o que se passa.
1. O que é preciso para receber uma revelação?
a) Não se consegue uma revelação sem que se tenha fome e sede de Deus.
Davi também se sentia ofendido por seus amigos que lhe perguntavam: “Onde está o teu Deus?”. Ele diz: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42.1-2).
“Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa—o teu santo templo” (Sl 65.4).
A pessoa que tem sede de Deus, ora, clama, busca sua presença. Os Salmos estão repletos deste tipo de clamor.
b) Entrar no santuário, isto é, ficar frente com Deus. Foi o caso de Jó. Depois que Deus fala com ele, exclama: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42.2-5).
O que é entrar no santuário? É buscar a Deus. Ir onde ele está!
Quando não temos revelação, falamos de coisas que não entendemos.

“Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença” (Sl 73.21-22).

Ex. Foi o caso de Moisés. Ele precisou ter uma revelação do caráter de Deus (Ex 34.6-7). E também de todos os líderes da Bíblia. Eles tiveram um encontro com Deus. Como Abraão que via o futuro, e viu os dias além da igreja!
2. A revelação dissipa nossas dúvidas. Por isso Paulo pede que oremos pelos novos crentes para que tenha iluminação divina. “... para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder...” (Ef 1.17).
O que é uma revelação divina? É quando nossa mente, nossa razão, depois de grande luta se rende à iluminação do Espírito de Deus.
3. A revelação traz luz sobre nós mesmos. A revelação de Deus NÃO NOS MOSTRA APENAS SUA GLÓRIA, mas nosso pecado. O salmista Asafe, aqui, ao entrar no santuário, não apenas descobre o destino dos ímpios: ele vê o seu interior: “Eu era um bruto, um insensato, irracional, falei sem pensar, sem conhecer...”. Toda pessoa que tem revelação de Deus vê o seu interior. A mesma experiência teve Isaías no capítulo 6. Ele viu o Senhor e a glória do Senhor lançou luz sobre seu interior e ele viu seu pecado! “Ai de mim”, gritou.
Isaías disse: “Eu vi o Senhor...”. Depois ele exclamou: “Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Is 6.5).
A introspecção sem a luz de Deus traz culpa e desatinos, mas com a luz de Deus traz respostas. A reflexão apenas pode trazer confusão, mas quando Deus jorra de sua luz sobre nossas mentes, entendemos com clareza.
O que levou homens e mulheres de Deus a suportarem as dificuldades foi a revelação que tiveram de Deus e de seu propósito.
Podemos ver isto em Abraão que vivia em tendas porque aguardava a cidade que tem fundamentos; em Moisés, que contemplava o galardão; em José que deu ordens aos judeus sobre seus ossos... etc.
Voltemos ao Salmo 73.
No início ele diz: “Quanto a mim...”. Antes de ter revelação de Deus, quase se desviou. Agora no fim declara de novo: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus...” (v 28). Apenas um olhar separa o homem das respostas que Deus tem para ele.
Os dois “quanto a mim” no versículo dois e depois no vinte e oito mostram que a experiência que ele teve mudou sua maneira de pensar. Agora ele podia dizer que Deus é bom pra com ele também!